sexta-feira, 10 de março de 2023

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No yoga fala-se muito da importância do desapego. Um dos sentidos em que esse conceito surge é na tomada de consciência de que o resultado das nossas ações está totalmente fora do nosso controle. Nós, enquanto seres humanos, temos uma constante necessidade de sentir que controlamos a nossa vida ou, pelo menos, uma boa parte dela. Mas a verdade é que a única coisa que controlamos é a nossa ação. Podemos, por exemplo, escolher jogar na loteria, mas se ganhamos ou não, não depende de nós. Podemos escolher tratar bem os outros, com respeito e gentileza, mas se somos ou não tratados da mesma forma pelos outros, não depende de nós. Podemos decidir sair de casa mais cedo, mas se chegamos a tempo ao compromisso depende de inúmeras premissas que não estão sob a nossa alçada. Podemos escolher prepararmo-nos o melhor possível para a apresentação/ a prova/ o julgamento, mas não é garantido que a nossa performance seja a melhor possível. O que está, sim, totalmente sob o nosso controle é a nossa ação, o que escolhemos fazer. Este conceito é profundamente libertador. Retira-nos das teias das expectativas e cobranças. As coisas são como são. Isto não significa que não podemos querer mais e melhor. Podemos e devemos dar passos nesse sentido, mas sabendo que o desfecho é imprevisível. O desapego é partícularmente importante quando tentamos ajudar alguém. Podemos dar o nosso melhor, dedicarmo-nos, mas se a outra pessoa melhora ou não, depende bem mais dela do que de qualquer coisa que possamos fazer. E é preciso desapego para aceitar que tudo o que fazemos pode não dar em nada. É preciso desapego para aceitar que, o que quer que seja que se concretize, será para o nosso melhor. É preciso desapego para não nos deixarmos enredar pelas histórias do passado e pelas ansiedades do futuro: o desapego apega-nos ao presente. E é exclusivamente aí que está o nosso controlo: nas nossas escolhas e ações, momento a momento.


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