sábado, 4 de março de 2023

63-365

 


Tento fazer os meus alongamentos todos os dias. Em relação à flexibilidade, o nosso corpo responde de forma lenta. Avançamos um pouco a cada dia, de forma imperceptível aos nossos olhos. A mudança é lenta, gradual, até que, um dia, percebemos o caminho que já percorremos, o espaço que conquistámos no nosso corpo. Ao longo do caminho, vamos sentindo o corpo esticar, expandir-se. Alguns dias sentimos o corpo ligeiramente dolorido. Como se alguns músculos e tendões nos dissessem que existem, que estão ali. Apercebemo-nos deles. E, por mais preguiça ou desconforto que dê, continuamos, com cuidado, a trabalhá-los, até que não mais ficam doloridos. Cedem. Isso fez-me pensar: a nossa mente também funciona assim. Muitas vezes, quando queremos trabalhar certas emoções em nós ou questões mal resolvidas, (res)surgem dores. Tal como os tendões e músculos que percebemos quando trabalhamos a flexibilidade, essas dores manifestam-se, mostram-nos que existem, que estão ali. E, tal como os músculos doloridos nos dão vontade de não continuar o trabalho, essas dores também nos dão vontade de as evitar, de as deixar ali onde estão, quietas. Mas Einstein afirmou "a mente que se expande jamais voltará ao seu estado original." Cada vez que tentamos ir um pouco mais fundo em nós mesmos, que superamos o desconforto de nos olharmos, de enfrentarmos os nossos medos e dores, é um pouco mais de espaço que conquistamos. Espaço para construir algo novo. Espaço para crescer. Quando se sentir dolorido, não desista: do outro lado da dor, está a sua expansão. (Talvez a sua cura.)

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