terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

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Como não se comover com as imagens que nos chegam do terremoto na Síria e Turquia? Nos últimos dois anos, temos vivido situações desafiadoras. Passámos por uma pandemia que, nas suas várias ondas, matou milhões de pessoas no mundo. Onda atrás de onda, os números de mortes transformaram-se nisso mesmo: em meras estatísticas que nos acompanhavam diariamente e às quais, lamentavelmente, nos fomos habituando. 2000 mortes por dia, depois do choque inicial, deixavam-nos receosos e tristes, mas já não chocados. Depois, ainda mal tínhamos conseguido respirar da pandemia, começaram a chegar imagens da guerra na Ucrânia. Destruição, morte, êxodo. Mais tristeza a que, infelizmente, nos fomos habituando também. Ontem, chega-nos a notícia da catástrofe na Síria e Turquia. E a Síria que, há anos, já sofre com a devastação da guerra! Hoje, confesso que, ao ver aquelas crianças a ser resgatadas, fiquei profundamente emocionada. Crianças tão pequenas, a serem retiradas dos escombros todas cobertas de poeira, com olhares perdidos, exaustas, feridas, e a emoção dos adultos que as salvaram, dos adultos que as receberam de volta à vida. Os aplausos, a esperança renovada de encontrar mais sobreviventes. A celebração da vida, a crença no milagre. A verdade é que, todos nós, a cada dia, renascemos. Só não paramos para pensar nisso. Assim como, lamentavelmente, banalizámos as mortes por covid e nas guerras, banalizamos ainda mais o facto de, a cada dia, nos ser dada a bênção de continuar vivos. De certa forma, essa banalização é uma forma de nos protegermos: ninguém quer encarar a sua mortalidade de frente. Ao ver aquelas crianças a renascer dos escombros, celebrei, com os olhos marejados, o milagre que lhes foi concedido, e relembrei-me deste milagre que todos nós devemos ter presente: a cada dia renascemos. Sorria: ainda estamos aqui! 

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