quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

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Em Portugal chamamos-lhes melgas. Em São Paulo, são pernilongos. A convivência é igualmente difícil, cheia de zumbidos durante a noite e picadas pelo corpo que nos dão enorme e irritante comichão.
Quando cheguei aqui, em 2012, o meu corpo estava habituado às melgas e desenvolveu uma terrível alergia aos pernilongos. As picadas inchavam, ficavam duras, doíam. (O meu corpo rejeitava tanto estar em São Paulo quanto a minha mente!) Com o passar dos anos, as picadas tornaram-se menos incómodas para mim. Continuam a dar uma comichão terrível - esta semana tem sido um Deus-nos-acuda de tanta picada que tenho! -, mas não incham nem inflamam. O nosso corpo vai-se adaptando, criando mecanismos de defesa. A teoria de Darwin tem sido, por anos, mal interpretada: não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta. E, seguindo a teoria da evolução, eu diria que é crucial que, cada vez mais, num mundo que muda vertiginosamente a cada dia que passa, possamos desenvolver a nossa capacidade de adaptação. Na geração dos nossos pais, era possível ter o mesmo emprego a vida inteira, por exemplo. Na nossa e, principalmente dos nossos filhos, a vida está em constante mudança: surgem novas profissões, outras tornam-se obsoletas, a tecnologia não nos dá um minuto de sossego, sempre com novas conquistas. Não adianta querer agarrar-se com unhas e dentes a alguma condição. Imaginem se o meu corpo resistisse a adaptar-se aos pernilongos, se ele se agarrasse com unhas e dentes à única noção de mosquito que conhecia até então "eu não vou criar defesas contra esses pernilongos! Demorei anos e anos para me adaptar às melgas! Não vou começar tudo de novo!" Já dizia Jung, com muita sabedoria, "aquilo a que resistimos, persiste."
Siga a inteligência inata do seu corpo: não resista, e adapte-se, o quanto antes. Vai poupá-lo de sofrimentos desnecessários e abrir-lhe novas portas de paz e felicidade.

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