quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

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Os filhos surpreendem-nos em tudo! Shefali Tsabary - de quem recomendo, vivamente, que vejam os vídeos, palestras e leiam os livros - diz que, quando a criança nasce, já é um ser, em tudo, soberano. Eles já "vêm prontos". O nosso papel não é moldá-los, dar-lhes a forma que supomos ser a melhor, mas sim proporcionar-lhes o terreno fértil para que cresçam e floresçam naquilo que já nasceram para ser. (A famosa comparação entre sermos "carpinteiros ou jardineiros".)
Isto envolve um extremo trabalho interior de nós, pais. De nos dedicarmos a conhecer os nossos filhos, de os aceitarmos como eles são, de nos desapegarmos de expectativas inúteis e prejudiciais. E também de nos (re)construirmos no melhor exemplo possível para eles - a criança presta mais atenção à nossa atitude, aos nossos actos do que às nossas palavras (temos de viver o que pregamos...Não adianta dizer à criança que tem de aprender a lidar com as emoções e, na primeira contrariedade, entrarmos em histeria, gritos, etc...)
As expectativas são uma parte muito importante da questão. Inadvertidamente, tendemos a idealizar várias coisas em relação aos filhos, o que é um tremendo equívoco. Eu, por exemplo, quando soube que ia ter um menino, fiquei, confesso, aliviada por me ter livrado dos lacinhos, vestidos, e todas as coisas "de menina", e feliz na minha ilusão de "poder jogar à bola com ele, ensiná-lo". Realmente as "coisas de menina" passaram longe, mas o futebol também, porque o Mateus não gosta de futebol. Nunca gostou. Tantas outras coisas que pensei que iam ser assim, foram assado. Até os olhos dele, que pensámos que seriam castanhos ou verdes, saíram no tom de azul maravilhoso que ninguém soube prever! Devemos abraçar essas surpresas, aprender e crescer com a pessoa que o nosso filho é.
Ele é ele mesmo, e não uma espécie de "2a edição" nossa. Ele não tem de nos agradar, não tem de ser quem nós achamos que ele deveria ser. Não tem de ser quem ele acha que nós achamos que ele deveria ser. Ele tem, sim, de descobrir quem ele é e, igualmente importante, quem ele quer ser. Nós podemos iluminar caminhos, ajudar na busca, ser presentes, sempre. Podemos, até, ajudar a abrir caminhos, mas é ele que tem que os trilhar, por escolha dele. Nós, pais, temos, principalmente, de abandonar qualquer expectativa de que eles, os nossos filhos, vão ser isto ou aquilo, que vamos fazer deles mini-pessoas que nunca erram. Quantas vezes já errámos na vida? Quantas pessoas já decepcionámos? Por que temos esta tendência insana de querer que as nossas crianças sejam perfeitas se nós não somos e nunca fomos? Mais ainda: por que tantos pais esperam que os filhos façam e sejam o que eles não fizeram ou foram? Acredito que devemos passar, aos nossos filhos, valores mas não crenças, amor mas não cobrança, orientação mas não imposição, opções mas não a escolha. Devemos aproveitar esta enorme dádiva, não para sermos uma resistência a quem eles são, mas para crescermos com eles: não há maior inspiração na vida do que um filho. 

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