domingo, 19 de fevereiro de 2023

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Ao ler sobre os Yoga Sutras de Patanjali, um dos tratados mais importantes na literatura do yoga, percebemos que, na concepção do yoga, o problema essencial da existência humana é o véu de ignorância que cobre a nossa percepção de quem realmente somos. Procuramos as respostas para quem somos fora de nós quando, na realidade, as conhecemos olhando para dentro. Então, para o yoga, o conhecimento liberta, pois remove a ignorância que nos impede de perceber a nossa real essência. Ao ler sobre isto, lembrei-me da famosa frase da Bíblia "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."  Esta é uma das coisas que mais me fascina no autoconhecimento: perceber que, em diversas tradições aparentemente distintas, encontramos os mesmos princípios, descritos de formas diferentes. Se pensarmos na Antiguidade Clássica, também Platão defendia que "conhecer é relembrar" o que a nossa alma já sabe. O conhecimento liberta-nos das falsas ilusões do mundo das aparências - qualquer semelhança com Matrix não é pura coincidência. E o que seria conhecer? Parece-me que apenas conhecemos aquilo que experenciamos - tal como,  aproveitando a citação, no Matrix só era possível conhecer o mundo real ingerindo a pílula vermelha e acordando, de facto. Temos o clássico exemplo do tomate: podemos saber que o tomate é uma fruta, mas é através da nossa experiência do que um tomate é e do sabor que tem que decidimos não o colocar numa salada de frutas. Podemos saber palavras da Bíblia (ou outra escritura) mas isso não nos faz conhecer Deus ou senti-lo no nosso coração. Podemos saber que as plantas realizam a fotossíntese e que efetuamos uma constante troca gasosa com elas, mas isso não nos faz sentir que estamos realmente conectadas com elas. Podemos saber lindos poemas de amor, mas isso não nos faz conhecê-lo. Podemos saber que as perdas são dolorosas, mas só as conhecemos quando somos atravessados por essa dor. Podemos saber que vamos morrer mas só conhecemos a nossa mortalidade quando a vivenciamos (por perdas, doenças, acidentes, algo que nos confronte com ela). Só conhecemos verdadeiramente aquilo que realmente experenciamos. Por isso o yoga é tão belo: leva-nos a experenciar a nossa própria existência, em todas as suas dimensões (física, mental, emocional, energética). E, voltando à Antiguidade Clássica, encontramos um dos princípios mais famosos de Sócrates: "conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o universo e os deuses." Se juntarmos tudo, ficamos com um belo aforismo. "A saída é para dentro" (Sadhguru) : "conhece-te a ti mesmo" e "a verdade vos libertará".
Seguimos na experiência.

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