quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

53-365


Às vezes, em mudanças bruscas de temperatura, a minha perna direita lateja levemente, relembrando-me que ali ocorreu uma fratura. Uma das dores mais fortes que já senti na vida, acordada por um frio súbito, ressurge, aqui e ali, como uma dor-relâmpago. Aparece como uma mera sombra da dor que foi, um dia.
Quantas dores do passado temos, latentes, em nós? Quantas vezes somos confrontados com situações que, como um frio repentino, nos relembram essas dores que já vivemos, que julgávamos extintas, mas estão apenas adormecidas? Cito, mais uma vez, Jung "aquilo a que resistimos, persiste." Devemos aceitá-las, acolhê-las, para que possamos entendê-las. Só podemos transformar as dores que conhecemos e reconhecemos como nossas. E, então, poderemos senti-las sem que nos magoem novamente. Não temos que as reviver: cada vez que uma sombra delas aparecer, poderemos, finalmente, dizer "És tu, minha velha conhecida! Já sei o que fazer contigo" e, calmamente, poderemos indicar-lhe que caminho seguir. As dores podem fazer parte de nós, mas nós não temos de ser, eternamente, as nossas dores. 

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