terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

52-365

 


Hoje fiquei a pensar nas palavras de uma das minhas melhores amigas "Qual é o sentido da vida se, no final, vivemos para morrer?" Lembrei-me de uma vez estar num táxi aqui em São Paulo e o taxista, ao presenciar uma imprudência de outro condutor, dizer "para quê tanta pressa se vamos todos acabar no mesmo lugar?"
É difícil entender e abarcar a nossa mortalidade. Tanta luta, tanto sacrifício, tanta correria, tanto empenho para, no fim, tudo acabar. Parece, realmente, muito injusto. E não creio que haja uma resposta que possa acalentar-nos aqui. Façamos o que fizermos durante a nossa vida, o final é o mesmo para todos nós. Então, qual o sentido? Para quê preocuparmo-nos seja com o que for, se o final é o mesmo para todos?
Então, olhei à minha volta: qual o sentido da existência de uma flor? Desabrocha, vive um tempo, seca e morre. Parece igualmente injusto. Mas enquanto ela vive, espalha o seu perfume, há animais que se alimentam do seu pólen e o espalham por aí promovendo a sua reprodução, pode ser abrigo para animais, há pessoas que a contemplam, pode até ser eternizada numa fotografia, num poema, numa música, num quadro. Enquanto a flor está viva, ela apenas tem um propósito: ser a flor que nasceu para ser e desempenhar o seu papel no ecossistema em que está integrada. Então, talvez o sentido da nossa existência, o nosso propósito, não seja outro a não ser sermos humanos, a nossa melhor versão possível de ser humano. Talvez o que é importante, então, é procurar não o sentido da vida e da morte, mas o que significa ser humano. Por alguma razão que desconhecemos - e que, provavelmente, jamais iremos saber -  nascemos neste corpo, com esta mente, com estas habilidades. Talvez o que importa é o que fazemos com isso no curto espaço de tempo em que nos é permitido andar por aqui. A flor espalha perfume, pólen, beleza. E nós, o que mais nos define enquanto seres humanos? O que significa ser humano? Acredito que a coisa mais importante é se espalhámos amor. Se o derramámos em quem conviveu connosco, em quem cruzou o nosso caminho. Fomos porto seguro, abrigo? Iluminámos o caminho dos outros? Acrescentámos mais do que tirámos? No momento de nos despedirmos, deixamos um bocadinho de  nós vivo em outros seres humanos? Nascemos para ser humanos, e a coisa mais bonita de se ser humano é amar e estabelecer conexões profundas com os outros. É esse o sentido da vida. Por que não podemos viver para sempre e viver essas conexões eternamente? Não sei. Não conhecemos todas as razões deste mundo. Mas uma coisa é certa: a vida pode não ser eterna, mas se foi vivida com propósito, eterniza-se no amor. Se fomos, da forma mais autêntica e genuína possível, o melhor ser humano que pudemos ser, a nossa vida terá tido sentido. Porque o amor é o que dá sentido à vida. O amor é o sentido da vida e a vida sente-se no amor. Quem verdadeiramente procurou, em vida, ser humano, será, para sempre, Amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário