quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

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Há um exercício de disciplina que tenho praticado, com alguma frequência nos últimos anos. Penso em alguma coisa que gosto muito e faça parte da minha rotina, e desafio-me a ficar sem ela por um período de tempo. Por exemplo: um mês sem comer doces, um mês sem tomar café. (Também pode ser ao contrário, introduzir alguma rotina: comprometer-me a fazer X abdominais todos os dias, por exemplo). Não, não é nenhum tipo de tortura auto-imposta. Claro, os primeiros dias custam um pouco. A mente pede aquele cafezinho para acordar, ou aquele doce para fechar a refeição com chave de ouro ou ajudar na TPM. A mente arranja todo o tipo de desculpa para nos permitir abrir uma excepção. Mas, a cada vez que me desafio dessa forma, percebo que, passada essa fase inicial mais difícil em que temos que dizer, com alguma dificuldade, "não, obrigada" a cada vez que, teimosamente, aparece a oferta do café ou do doce (sim, por mais que, em casa, eliminemos os itens, eles teimam em nos aparecer à frente nas mais variadas circunstâncias, até bem mais que o habitual!), a cada vez que dizemos "não" estamos, na verdade, a dizer "sim" à nossa força de vontade. A cada vez que dizemos "não" torna-se mais fácil, porque a disciplina e a força de vontade são um músculo que se fortalece a cada vez que o exercitamos. E, mais ainda: se, no começo, dizer "não" custa um pouco, passado um tempo, dizer "não" é bem mais recompensador do que seria tomar o café ou o doce. Não queremos mais ceder, não por obrigação auto-imposta ou sacrifício doloroso mas por prazer e felicidade de sabermos que estamos a seguir uma escolha consciente, por nos sentirmos senhores de nós mesmos, por gratificação de aprendermos a dizer "não" com leveza e desapego. Porque se pararmos para pensar: realmente escolhemos tomar aquele café ou comer aquele doce? Ou simplesmente cedemos a um impulso ou a um hábito instalado? Dizer "sou livre para comer os doces que quiser" não será, por vezes, um eufemismo para "eu sou escravo da minha necessidade de comer doces"? Na minha experiência, digo-vos que, por mais antagónico que pareça, quanto mais digo "não", mais livre me sinto. 

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